segunda-feira, 11 de maio de 2009

Insensatez


“Assim como ninguém escava o terreno dos alicerces de sua casa, porque poderá comprometer sua segurança, do mesmo modo ninguém arranca as árvores das nascentes, das margens dos rios...”.


Insensatez


(por Alexandre Pelegi)


Insensatez: este é o nome para o cidadão que dá um tiro no próprio pé. O jurista Osny Duarte em 1965, coordenador do então novo Código Florestal, já alertava para os riscos da devastação: “Assim como ninguém escava o terreno dos alicerces de sua casa, porque poderá comprometer sua segurança, do mesmo modo ninguém arranca as árvores das nascentes, das margens dos rios...”. Passados mais de 40 anos descubro que o termo insensatez é suave demais para explicar o comportamento depredatório do brasileiro. E as leis, ora as leis, estas continuam sendo objeto de escárnio dos poderosos e de afrontamento dos ignorantes.

Fala-se o tempo todo em fiscalização. E o que vemos, além do instituto da propina, é o crescimento degenerado da especulação imobiliária. Algumas entidades ambientais conseguem denunciar o descaso. Mas são poucas, não por falta de ação, mas porque habitamos um país de iletrados.

A ignorância é madrasta do descaso. Quantas pessoas se omitem, por não saber o que fazer? Quantas não são levadas pelo argumento fácil e sedutor do benefício próprio?

As organizações do terceiro setor, por mais bem intencionadas que sejam, têm um limite claro para atuar que, ao contrário do que se imagina, não é legal, nem institucional. Refiro-me à ignorância do cidadão.

Alguém já disse que a única forma de se mensurar a consciência de um povo é seu nível de organização. Um povo desorganizado, além de vulnerável a safardanas e corruptos, é um povo sem defesa. Não conheço outra forma de fomentar consciências que não a educação.

De 1965 até hoje as florestas foram derrubadas e desrespeitadas na proporção direta em que nosso ensino caiu em qualidade. A cada árvore derrubada é como se houvesse em correspondência uma escola pública sucateada. Um povo sem escola pública de qualidade é um povo sem proteção. Como alguém assim pode defender a natureza?

O prato de comida e o emprego salvador se tornaram a única e imediata preocupação do cidadão. Sem escola, ele não consegue enxergar salvação em ações coletivas. Vinga o "salve-se quem puder". E que Deus nos proteja... Antes do slogan “plante uma árvore”, por que não lutar pelo correto “salve uma escola”?

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