quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Sem medo.


Sem medo de perder
Por: Renata Leita

Chega o final de ano, e a gente se projeta pro futuro de uma forma um pouco vacilante: por um lado, nosso espírito está voltado para a renovação, para investir em planos inéditos, combater nossas carências. É como se pudéssemos, de um dia para o outro, zerar o que foi vivido e nascer de novo.Por outro lado, temos dificuldade em dar essa zerada, porque isso significaria abrir mão de algumas coisas, libertar-se do que não está dando certo, e o desapego não é uma prática corriqueira entre nós. O ideal seria que o novo ano nos recebesse de portas escancaradas para que passássemos com toda nossa bagagem, porém a porta não é tão escancarada assim. Não dá pra trazer tudo com você. Principalmente se você está tão repleto de desejos novos. Para que possamos receber o novo, é preciso deixar pra trás desejos antigos, sonhos frustrados. É preciso estar disposto a perder.Foi lendo uma crônica do psicanalista Contardo Calligaris, de dezembro de 2005, que me deu o estalo: como é que eu vou abrir espaço para novos acontecimentos e emoções na minha vida se consigo me despedir do que mulei no paçado?Adeus ano velho. Foi ótimo, foi péssimo, foi fácil, foi difícil, me dei bem, me machuquei, teve de tudo. As emoções boas naturalmente irão se acomodar na minha mochila e vir comigo, e o que foi ruim pode ser transformado em aprendizado e vir também, mas alguma coisa terá que ficar pelo caminho. É como doar as roupas que já não usamos para poder liberar as gavetas.E tem as relações afetivas e amorosas que já não correspondem ao esperado. Você não vê mais graça em brigar, não quer se acostumar com a dor, com as agressões que o coração sofre, mas como deixar o ringue depois de tudo o que foi investido, de tanto sentimento que não foi inventado, mas que existiu de fato? Pra responder a essa questão e deixar como mensagem de fim de ano, volto a Contardo Calligaris, que encerrou aquela sua crônica de 2005 com uma frase que serve para os finais de todos os dezembros da nossa vida.

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