sábado, 21 de março de 2009

Me atrevo a dizer que naquele instante algo superior, um grilo falante, sei lá..., algo assim me usou como ferramenta.

por Alexandre Pelegi)Meu jovem amigo conta que vai se separar da esposa. O sorriso que acompanha a notícia é desajeitado, fora de sincronia com a gravidade do que acaba de relatar. Sinto um mau jeito típico de quem não tem a menor certeza do que diz. Na verdade o que ouço soa como um SOS de quem navega em águas turvas e belicosas.
Engraçado essa empatia que às vezes se estabelece entre duas pessoas. É como se eu estivesse diante do outro com a específica função de cumprir um propósito, como se o bombeiro surgisse no local do incêndio pouco antes do início do fogo...
Mas a frase de meu amigo não era somente um SOS, o pedido de socorro tinha alvo certo. Apesar do sorriso fora de lugar e do olhar blasé, a cena construída funcionava como um pedido para que eu o convencesse do contrário. Como na metáfora, eu já estava diante das primeiras labaredas e sem pensar soei o alarme e comecei a aspergir água.
O fim da conversa não importa, mas quero contar as sensações que a situação causou em mim. Para continuar abusando das metáforas, me senti como o estudante que ao abrir a prova se depara com as mesmas questões que estudara na véspera - dono das respostas, pois as perguntas já eram velhas conhecidas.
Coincidência? Vivência?
Me atrevo a dizer que naquele instante algo superior, um grilo falante, ou use o nome que for, algo assim me usou como ferramenta. E descobri que já estivera em situação parecida, só que no papel inverso, do socorrido... Lembrei-me de problemas que eu acreditei a vida toda terem se resolvido sozinhos, e percebi que nessas ocasiões houve sempre alguém a meu lado. O que tais pessoas fizeram? Não me lembro, mas tenho certeza que meu amigo tampouco se lembrará daqui a alguns dias.
Talvez exista nome que descreva essa sensação que a gente sente ao ouvir aquela música que do nada (?) nos devolve momentos que não sabemos ter vivido, cheiros que desatam sonhos e recordações adormecidas. Ao invés de atribuir a uma causa fora e além do humano, prefiro antes acreditar que somos muito mais sensíveis do que pensamos, melhores do que jamais supomos, e muito mais próximos do divino do que acreditamos.
Tudo isso pra dizer: esteja pronto! Você pode ser usado em breve. E pode ajudar a ajudar alguém...As coisas que acontecem com você, na verdade, não são tão grandes e importantes assim. Mas, como você pensa demais, elas se tornam imensas. Aí surgem perguntas do tipo: ‘por que isso acontece comigo?’ Esqueça esse tipo de questionamento. Se a situação surgiu, encare-a como um teste e apenas lide com ela. E não perca tempo, não. Tome uma decisão rapidamente. Seja um juiz e não um advogado. Os advogados tendem a prolongar o caso por muito tempo; já o juiz toma a decisão em um piscar de olhos.

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